Não importa a visão da cidade/
E sua face atormentada dando voltas no quarteirão/
Nossos olhos erguidos além do concreto/
Vêem as copas das árvores e não espantam pássaros/
Também aprendemos a pousar na linha esticada/
Para ver o sol nascer.
É por um sopro cansado que meu espírito escoa Como um lustre de desbotadas lâmpadas Despejando luzes mornas Num assoalho sem tapete Aquela ferida, que, sem querer eu tiro a casca Toda vez em que seca E toda a pele ao redor inflama Num gesto de sombra dilatada a rotina me alcança A voz da mente se espanta ao ser encontrada Eis que a mão levanta E começa a escrever
Dias negros em que danço com a morte despida Ela tem um colar afiado que machuca os meus sonhos Ela veio no corredor que, há pouco era infinito E tornou estreita qualquer vida... De triste, ainda tem um carisma Embargados nas suas águas sem portos Cicatrizamos a inútil sala do horizonte Apostos no convés onde os mastros já arearam velas Acenando para a própria imagem que derrete Metros à frente da proa Frios segredos Que me lançam na corte da piscina vazia Fitando estrelas nos lábios da morte Enquanto ela passeia pingando fel na minha língua Tão bonita que não vale à pena seguir sozinho Para ilhas breves Sei que, quando, ela Em declínio se pôr por trás de cada onda Seus braços estendidos me levarão consigo Pra dentro do mar gentil... E ela dança E me olha Acho que ela sonha E, se ela dorme...pode esperar até amanhã
Escrevo lastros de esperança Porque meu peito, em estendidas fibras quase rebenta E, sorvendo cada palavra feito uma taça de vinho Eu ando em meio aos espinhos Pra ousar na dor a física essência Talvez, na medida em que eu a compreenda no exterior Eu aprenda a suportar o frio que me corta por dentro das veias Há uma vontade e uma força extrema em cada poema Como uma família Onde cada um senta em separadas cadeiras Mas reunidos numa só mesa Interligados os elos, eles se completam Nos levam ao litoral e voltam Deixando a cama pronta pra quando o sono chega
Os cães começam correndo atrás de um coelho que nunca alcançam
E nem sabem se gostam
E nem sabem se odeiam o coelho
E continuam correndo porque os outros também correm
Mesmo que não vejam mais o coelho
Até o ponto onde não notam mais nem os outros
Então eles cansam e se desesperam
Porque não esperavam ficar tão longe de si mesmos
...Voltam caminhando...
E pelo fato de voltarem de cabeça baixa
Vêem a si mesmos nas poças d‘água
Uma força humilde os impulsiona
E eles saem correndo felizes
Mas agora para mostrar aos outros
Que a diferença não está na corrida
E sim no sentido, e naqueles que se acompanham
Ninguém deve ficar pra trás
sexta-feira, 17 de outubro de 2008
Estive sentado na ponte Observando como a água passava E os raios de sol formavam uma rede brilhante Que pescava meus olhos Pensei em alguém sentando ao meu lado Trazendo nos lábios o céu rosado Meus olhos amanheceram Cobertos pela fina poeira de pólen Desprendendo-se das árvores Era como se elas talhassem a forma das nuvens Fazendo cair os restos da tarde sobre mim
Estrela cadente que se emaranha entre ramos Barco da manhã incandescente Procura sombras para descansar seus olhos Mas a falta do céu reduz os sonhos E o tempo de dormir É trocado pela mania de acordar sem luar Parece fugir... Estrela cadenteque se emaranha entre ramos Entre nós estranhos desencontros Nosso olhar por entre os galhos é instinto E o instinto é vinho tinto em panos brancos O valor é audaz... Nosso olhar por entre os ramos é ainda mais