Pelas palavras...

Minha foto
Não importa a visão da cidade/ E sua face atormentada dando voltas no quarteirão/ Nossos olhos erguidos além do concreto/ Vêem as copas das árvores e não espantam pássaros/ Também aprendemos a pousar na linha esticada/ Para ver o sol nascer.

terça-feira, 28 de abril de 2009

A face de Deus


É impossível tocar na face de Deus
Porque a nada se assemelha
Porém, a tudo se reconhece
Inclusive as próprias mãos que lhe buscam tocar

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Atelier


A vida mistura as tintas
Espalha telas no atelier
Mas esconde os pincéis em jardins sem endereço
Por isso comecei a pintar com as mãos
E não me importei em manchar-me
Estiquei lençois em altos cordões
E respinguei as sobras guardadas das cores
Tingi estações com o gosto de um descampado que as sente
Através da memória presente do seu capim
E, no fim dos dias
Recolhi cada pano e estiquei sobre o chão da sala para dormir
Mas, apesar das cores, havia sempre ao meu lado uma parte em branco...

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Algum sinal

Só quero que a música continue...
pelo instrumento que vibra em meu peito

Intervalos


Como cervos amedrontados
Escondendo-se em meio às árvores...
Eis que vós deixastes sobre a mesa
O fruto são de todas as suas refeições
E estendestes o tapete em frente à porta
À espera das folhas que logo virias a varrer
Eis que, ao vosso sono te espelhastes nas lembranças
E ao acordar ainda te vestes invertido
E tiveste chance pra sentir, escolhendo outros sentidos
Mas como não ficastes lá...
Há um intervalo...
Vestígio de sombra inalterado
Que, por mais que chores
Parece nunca poderes regar de força este instante
Para que brotem hoje as flores de antes
Eis que vós deixastes um recado
Num papel em branco
Que virias a ler ao mesmo tempo em que escreves
Tuas mãos se encontram com as palavras
E as emoções se dilatam
Preenchendo com esperança os espaços
Nesses intervalos...

quarta-feira, 22 de abril de 2009

À meio caminho das estrelas


Estou na borda da tela
cuidando pra não esmaecer a cor
mas é cansativo
por isso resolvi olhar para o seu desenho
e assim entrei na sua história
A tinta estava molhada
percebi que eram lágrimas que vinham do fundo
nos poros da alma, nos furos do pano
Achei que não devia misturar as cores
misturei a mim mesmo entre os cantos dos teus olhos pintados
e ali fiquei...
num dos quadros que os vidros da janela espelharam
e que quando a luz de dentro acendia
ficava refletido na vidraça com todo o resto da paisagem lá fora
O sol nos fotografa em muitas manhãs
tenho pra mim que ele nos revelará
e, com a ajuda do vento
em sequência, dará movimento a cada imagem
e, com a ajuda da chuva irá nos tirar do papel
e escorreremos felizes na colina...
nem que seja na eternidade de um único dia
até que a lua absorva a poesia que o orvalho da tarde deixou
a meio caminho das estrelas...

domingo, 19 de abril de 2009

Da noite


Flocos de neve se acomodam sobre mim

E se mantém...

E não preciso que se derretam em minhas mãos

Para mostrar aos outros

Que o céu cobriu de branco o veludo cinzento dos dias

Me basta sentir a paz que me distrai do tempo

E me enrolar num cobertor

Quando voltar para dentro...

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Tecendo as horas


Sou eu descalço do tempo, desaprendendo o linear do destino
Desenhando em folhas que o vento leva, texturizadas entre nuvens
Não sei senão aquilo tudo o que tu já sabes
Pelos mesmos olhos, vivo surpreendendo os meus sentidos
Que ora se aproximam, ora se afastam...
Traduzo em mim o teor de tudo aquilo que escrevo
Despindo-me do medo que outrora engoliu meu pranto
Eu me refaço, me invento, me acomodo
Contemplo o mar que desenhou o arrepio na fina margem dos poros
Quando não tenho o que dizer, apenas canto
E assim, o meu prazer, que dura instantes
Me arremete em tantos...
Que, por mais que alguns dias eu caia para trás, eu me levanto
E os próximos momentos passam a ser melhores do que antes

Beleza


Felizes somos quando
Mesmo conhecendo tanto
Ainda nos permitimos admirar o pouco tão intensamente
Como se fosse sempre a primeira vez!

quarta-feira, 8 de abril de 2009

A luminosa gestação do tempo


Amada!

Tua casa, aquela cujos cômodos

Abrigam o amor das almas

E os móveis exalam o aroma das flores

Teu calor que se dilata entre as plantas

Tuas mãos molhadas

Carregadas de suor, intimidade ou pranto

Tuas asas brancas...

E o mistério oculto das lembranças

Que os teus pés tocaram

Teus lábios

Cuja forma gentilmente se encaixa

Numa saudade antecipada... Tão minha...

Tua voz que se entrelaça

Pela boca entreaberta, e que me cala

Num silêncio sensível e seguro; e eu te admiro

Tua escada de paixão que atravessa

Todo o muro que separa em solidão

Tua tez que me abraça

Pelo som que o corpo amplifica

Quando os olhos se fecham

E as costas dos meus dedos se eternizam nas tuas costas...

Deslizo os meus destinos por tantos caminhos no mundo

Pra me encontrar

Pra te encontrar

Nos férteis sonhos profundos

Que realizo neste momento

Abrindo a porta da tua morada

Depois da luminosa gestação do tempo

terça-feira, 7 de abril de 2009

Coisas vivas


As mãos, quando escrevem
criam laços profundos entre as palavras..
porque vão além do que as letras podem conter!

Grão


Os grãos que saem do cesto da vida
brotam nos canteiros do tempo
e criam raízes profundas
Também quero semear...

segunda-feira, 6 de abril de 2009

O orvalho e a flor


Não tentes decifrar o amor que existe em mim
compreenda apenas meus olhos.. em ti...
O orvalho sob as pétalas repousa
fecundando a luz na essência da flor

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Transparência



"Se precisar, quebrem-se todos os vidros, com os próprios punhos; pra libertar do aquário o ar que ficou trancado, impedido de se renovar"