Não importa a visão da cidade/
E sua face atormentada dando voltas no quarteirão/
Nossos olhos erguidos além do concreto/
Vêem as copas das árvores e não espantam pássaros/
Também aprendemos a pousar na linha esticada/
Para ver o sol nascer.
Tem esse violão deitado sobre a cama
uma lareira acesa crepitando pedaços de luz
mas os vidros foram fechados há muito tempo
e desde então tento imaginar os timbres do vento...
Ouvi as notas soando e a vida acontecendo
Não sei porque não tento
abrir...
Meu "não" contradiz a tudo o que penso
As lágrimas ficam correndo do lado de fora
e, aqui dentro, o frio dos meus olhos exala um resto do tempo
que outrora senti estar perto de mim...
Minhas pálpebras revelam manhãs aos meus olhos E meu pensamento se desenvolve em lúcida vertente Num resto de sonho que a noite beijou para acordar Varanda líquida ao largo horizonte Em cada folha seca que o chão acomoda Há um desenho único Destino adverso Que o vento leva entre distraídas almas Deixo estampar esta tarde no silêncio dos vidros Pela neblina sedimentada do outono Que as mãos da noite me consolam com seu ópio de sono Fazendo riscos no telhado Reduzidos os sons se esvaem em preto e branco E a caravana da poesia Satisfaz o fim do dia com a brisa que sai dos seus ramos Palavras... Texturas... Casas vivas onde moramos... Meu moletom também está por adormecer E meus olhos estão se encontrando do lado de dentro Até o amanhecer...
A borboleta continuará a pairar sobre o campo e as gotas de orvalho ainda brilharão sobre a relva quando as pirâmides do Egito estiverem destruídas e não mais existirem os arranha-céus de Nova York.